E a vida nos atropela de uma forma absurda. Julgamos ter o
controle de tudo. Estabelecemos 1001 metas. Vamos correndo em busca de todas de
uma maneira insana. Chegamos onde muitos gostariam e, por essa razão, muitas
vezes pensamos demais quando não queremos mais permanecer... Quando desejamos sair
desse tal lugar.
“Como pode um lugar que todos desejam estar e eu querendo
sair?”
E assim vivi durante algum tempo em algumas áreas da minha
vida. Julgando que eu estava “virando as costas” pras conquistas que obtive no
passado. Em alguns momentos me senti até ingrata.
O fato é que a vida é muito mais do que isso. A insatisfação
tomou conta de mim. E quando não tomamos uma atitude em nosso favor diante da
vida, a vida nos sacode. A dor física e emocional estão aí, muitas vezes, para
mostrar o que realmente importa.
Sim, havia medo. Havia orgulho, vaidade. Medo da mudança.
Medo de tantas outras coisas. Havia sonhos. Muitos sonhos.
E assim, meio que na porrada, com lágrima, suor, cansaço fui
promovendo, a duras penas, todas as mudanças. Caindo e levantando. Fui me
afastando de todos. Nada mais tinha graça. Nada mais tinha motivação. Não havia
mais vontade. Apenas sono, dores físicas, noites em claro com muito choro,
solidão. Dizia para alguns mais chegados: “Viver pra mim tem sido fazer o certo
e seguir o script.”
A vontade, aquela que
brota lá de dentro, não existia mais. Dizia, pro ex-amor: “Há um vazio aqui
dentro que não sei o que é.”
O amor próprio se foi. Tentava me sentir bem comigo mesma.
Mas não me sentia bela. O sentimento de não tenho valor nenhum como ser humano
era forte. Qualquer crítica me derrubava. A beleza externa, era secundário, mas
a vaidade, aquela positiva que todos devemos ter, também se foi. Nunca mais
havia me enxergado viva, bela, gostosa. O vazio foi crescendo.
Um dia a noite, ao assistir uma reportagem tive um estalo: “Preciso
de ajuda profissional.”
Após as primeiras sessões o diagnóstico: Depressão e sucessivas
crises depressivas. O susto. A não aceitação. Perguntei a psicóloga: Isso é só
porque preciso dar continuidade ao tratamento pelo plano. Não tenho isso.
Tenho?
Ela apenas me olhou.
Uma bomba. Estou com depressão. Como? Eu? Senti vergonha. Não
falei pra ninguém. Chorei. Lembrei de tudo que eu havia lido e visto. Fui ler
mais. A porrada da realidade ali em cada linha que eu lia a respeito da doença.
Pensei: “ Não cheguei no fundo do poço. Não posso ser vítima.
Preciso reagir.”
Mas a vida, quando bate, bate muito forte. As coisas não iam
bem. Até pra ir trabalhar eu chorava. Andar de metrô, lugares fechados, trem,
muita gente eu não conseguia ficar. Cheguei no fundo do poço algumas vezes. E
nesse tal fundo do poço, chegamos sozinhos. E a decisão de ficar lá ou não é
apenas de quem chegou lá. Levantar é tarefa individual, mas encontrar a saída
não. Precisamos pedir ajuda de quem nos ama. Dizer a verdade. Os colos,
abraços, braços, aparecem. Nos resgatam. Mas é preciso coragem pra tomar a
decisão de sair, não apenas do fundo do poço, mas também do casulo chamado
depressão.
A vida sempre nos devolve o que queremos. Sempre colhemos o
que plantamos, mas o que plantamos com o coração. E o universo conspirou demais
ao meu favor. Deus, toda a espiritualidade de luz, me fortaleceram e me ampararam.
Minha família, as pessoas que me amam, das quais eu me afastei, a casa espírita
que frequento, todos tiveram muita importância em todo esse processo.
Do diagnóstico até hoje já se passou 1 ano e meio. Procurei
ajuda dois meses antes.
Nesses quase dois anos do início do “processo de
tratamento/conhecimento/ cura” me descubro em cada pequena vitória, seja ir em
um grande show tipo o rock in rio e ficar bem ao ficar presa no metro sem o desespero.
Em conseguir seguir a dieta pra eliminar parte dos 14 kg que ganhei nesse
processo depressivo. Cada gr perdida, cada roupa que volta a caber é uma
vitória que eu tenho. Me olhar no espelho e me sentir linda. Trabalhar feito um
burro de carga em um emprego que amo, mesmo tendo metade do mundo dizendo que sou
burra por ter jogado minha vida profissional fora. Encontrar meus amigos e, de
fato, estar ali com eles (muitas vezes estávamos juntos fisicamente mas minha
cabeça era só tristeza e vontade de voltar pra casa) e me sentir feliz por
isso. Ver que o sentimento de inadequação vai embora aos poucos. Ouvir duras
críticas e acusações sem fundamento de alguém que amo durante uma discussão e
entender que o problema, dessa vez, não está comigo. E ficar bem. Mesmo calada.
Felicidade ao me abrir pro amor novamente, com medo de sofrer, de doer, mas
vamos lá!
Há muitos altos e baixos. Não é só vitória. Mas os problemas
possuem o tamanho que damos a eles. Caí! Levanto, assopro a poeira e entendo
que aquele não é o caminho e preciso de outro. Sem dramas.
Hoje resolvi vir trabalhar com uma das roupas que voltou a
caber. Prendi o cabelo, como sempre gostei, passei um hidratante, perfume,
baton e make mais linda que existe: o sorriso. Cheguei no escritório que estou
há um 1 ano e dois meses e tomei um susto de ouvir de alguém: “Nunca te vi
assim. Está linda.” E assim como tem acontecido com frequência (ainda bem!) me
senti viva novamente. Vi que por um tempo eu realmente não vivi, apenas existi.
Viver exige coragem. Saber reconhecer as falhas e
fragilidades também. O monstro chamado depressão ainda, vez ou outra, ronda.
Mas autoconhecimento é fundamental. Hoje não me permito mais nem ficar muito
tempo deitada. São lembranças de um lugar que já frequentei e não tenho o menor
interesse de voltar. Depressão não igual a uma gripe que chega e nos derruba
logo. Ela é um visitante chato, mas que chega e vai se instalando aos poucos. É
o vazio que vai aumentando até sufocar. Um processo lento e que muitas vezes
nem percebemos. Na primeira sessão com a psicóloga ela perguntou: “Quando isso
começou?” Até hoje não sei responder. Mas sei quando começou a acabar. :)
Há muito, mas muito mesmo a ser superado. A cada estalo
novo, vou virando a luz pra um lugar que estava no escuro ainda. E confio que
em
algum momento tudo será luz novamente.
"O
importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que
os outros fizeram de nós." Jean-Paul Sartre